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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A moça e a xícara

A garota baixou a guarda finalmente, o sono e o edredom úmido não foram mais desculpas suficiente. O cabelo desarrumado sorria rebelde à sua dona no espelho. Seu não tão bom humor esvaía progressivamente.
“Acontece!”, ela parou pra pensar. E acontecia mesmo, todas as manhãs, todas as frívolas manhas. Morria uma três ou quatro vezes para acordar e o seu cabelo parecia lhe punir pela preguiça. Buscava assustar o espelho com os dentes amarelando, excesso de cigarro e o contrário de cuidados; brigava com o café fraco, que nunca quis realmente parar pra aprender, e xingava o sol feliz do lado de fora.
A mãe ligou, quinze dias sem se falarem, e atendeu mal criada. Praguejou em voz alta, havia poucas coisas que amava mais do que praguejar alto. Dispensou a genitora e deitou intransigente o corpo, já flácido, na cadeira; como quem não queria mesmo estar ali. Ligou o notebook. Horas para carregar o tão elogiado sistema operacional.
Enquanto esperava, tratou de olhar as unhas esquecidas e seus diferentes tamanhos e formas. Choramingou seu próprio descaso e bicou a gatinha aninhada aos seus pés. A conta de luz, internet e o condomínio piscariam num vermelho vivo se pudessem, o pão de forma abrigaria mais fungos também.
O computador avisou: “Estou funcionando!”. E ela riu da própria ironia, conexão absolutamente lenta, desprezível. Tudo naquela casa refletia sua expressão: descaso, monotonia e desesperança. O emprego por um fio, pais separados e o mais recente caso do namorado. Não dava mais pra viver ali, ou daquele jeito, melhor mesmo era parar a vida e pedir pra sair.
Encarou o computador e abriu os e-mails, leu, quase dormiu. Abriu o navegador. Notícias, fóruns, readers, twitter. Deu o primeiro sorriso sincero aos avatares de photoshop, e quis escrever: “Tomando a primeira chicara de café do dia.”. Chicara? Não era com x? Será que tem acento no i? O mundo desabou…
No meio de um turbilhão de problemas, causas e consequências; entre furacões e borboletas, as verdades se perderam nos infinitos paradigmas de “ch”s e “x”s.

Alan Miranda de Freitas, junho de 2009

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